Fala Ciro

Ciro Gomes revelou em Fortaleza, antes de falar para jovens empresários sobre Conjuntura Política e Econômica Brasileira, no Restaurante Sal e Brasa, na última quinta-feira (24) que está a disposição da presidenta Dilma Rousseff no caso de uma convocação emergencial para compor seu ministério. Mas Ciro admite que não gostaria de aceitar tal missão, porque segundo ele, não gosta da equipe que assessora a presidenta. Ciro se comprometeu com Dilma que se houver uma crise e sendo chamado aceitaria. "Mas espero que isso não aconteça, mas se ela precisar de mim ela sabe que conta comigo", frisou.

Ciro Gomes disse ser legitima a postulação de Dilma para uma reeleição em 2014 e considerou que uma candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ano que vem seria ruim para ele (Lula) e para o Brasil. Afirmou ainda que os movimentos de Eduardo Campos para se candidatar a sucessão de Dilma são uma incoerência do PSB que está no Governo Federal atualmente. Criticou as postulações de Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Alves (PMDB-RN) para as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados, respectivamente, dizendo que tem nas casas pessoas com compostura para exercer estes cargos.

Eis na integra a entrevista que Ciro Gomes concedeu coletivamente:

O senhor vai fazer parte do ministério de Dilma ainda neste mandato?

Ciro Gomes - Espero que não. Seria indelicado eu dizer que recebi um convite da presidenta para ser ministro, porque se eu recebi e não aceitei não é delicado de quem convidou; se eu não recebi e estou esperando que seja eu mesmo não estou constrangido. Na verdade é o seguinte: a presidenta Dilma com quem eu conversei sobre este assunto no mais lá atrás, compreendeu minhas razões, meu momento e eu disse a ela que na normalidade eu fico aqui embaixo batendo palma. E que se houvesse uma crise, que eu espero que não aconteça, e ela precisar de mim ela sabe que conta comigo; mas eu prefiro hoje não ocupar ministério nenhum e explico porque: eu não gosto da equipe da presidenta Dilma. Eu não gosto do arranjo político que sustenta a presidenta Dilma. Esse negócio de Michel Temer é vice; Renan Calheiros, presidente do Senado; Henrique Alves, presidente da Câmara; e com Ideli não sei das quantas coordenando a Política, isso só vai dar certo se a Dilma tiver uma estrela da tamanho da estrela Vega, que é a maior estrela que a gente consegue avistar daqui de Fortaleza.

Então Renan Calheiros e Henrique Alves não são os melhores nomes para as presidências no Congresso Nacional?

Ciro Gomes - A eleição deles não vai dar certo. Isso não tem a menor chance para o desenvolvimento do Brasil. O melhor para as presidências das duas casas seria alguém que tivesse compostura.

Seria viável e bom para o Brasil a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para presidente em 2014?

Ciro Gomes - Viável é. Ele tem uma popularidade muito grande, mas seria muito ruim para o Brasil e péssimo para ele. Muito ruim para o Brasil porque o Brasil não precisa mais de pais da Pátria, de líderes populistas, carismáticos que destruam as instituições e explorem o bem querer do povo, porque isso nunca deu certo na história política brasileira. O Brasil é um país que precisa avançar muito mais apressadamente no sentido à modernidade e a despersonalização das nossas instituições. De outro lado seria muito ruim para ele Lula, porque ele saiu com uma imagem de um homem que depois de todos sofrimentos que passou entregou o País dramaticamente melhor do que recebeu. E ele não conseguirá repetir essa performance, porque foi uma condição muito específica o referencial desastrado do governo que o antecedeu mais a condição internacional mais o conjunto de obviedades que senão fora a interdição ideológica vigente quando ele assumiu não teria acontecido. Enfim, nada disso estará mais presente. Então seria muito ruim para ele também se candidatar.

E as movimentações da presidente Dilma Rousseff pela reeleição são legítimas?

Ciro Gomes - Esta tentativa é completamente legítima, porque na verdade quando se introduz a reeleição, se introduz aqui a doutrina norte-americana. E a doutrina norte-americana, na prática, a reeleição é um mandato de oito anos com um plebiscito no meio. Muitos raros os casos em que o presidente que tem um bom desempenho não se reelege. Na verdade é sem exceção. O que quer dizer que é um mandato de oito anos com um plebiscito no meio. E ela tem se esforçado muito. O País não vai bem. O Brasil não vai bem, Nós da mão para boca onde podíamos ir já fomos. A coisa desse pequeno varejo de medidas que estimulem o consumo já deu na laje. Não vai resolver o problema. O Brasil precisa consertar uma equação de desenvolvimento que exige uma agenda muito mais sofisticada do que essa que nós estamos assistindo ai. Mas ela tem tido um excelente desempenho.

O PSB deve seguir apoiando Dilma na reeleição em 2014?

Ciro Gomes - Nós participamos do Governo Dilma. Nós sacrificamos uma candidatura do próprio partido em 2010, que era uma candidatura bastante competitiva para apoiá-la no primeiro momento, quando ela era uma mera aposta e com uma possibilidade de risco imensa. Agora não só ela está eleita, cumprindo os compromissos que assumiu, mantendo por exemplo, a menor taxa de juro da história do Brasil. Nesse sentido é mais progressista que o Governo Lula e nós do PSB participamos do Governo. Então qual é a coerência que abandonou a tese de ter um candidato para apoiar uma candidata que era uma mera aposta e agora que ela é uma realidade e a gente participa do Governo, qual a coerência, que cara nós vamos nos apresentar para sociedade brasileira agora negando este Governo?

E a pré-candidatura de Eduardo Campos, presidente nacional do seu partido?

Ciro Gomes - Está tudo certo. O Eduardo Campos tem todos dotes, qualificações e talentos para ser candidato. Mas minha pergunta persiste: qual a coerência? Com que proposta? Com que razão nós vamos nos apresentar com uma candidatura própria? Lembrem que eu advogo que todo partido deveria até por lei, sob pena de extinção de seu registro, ter candidato próprio à Presidência da República. Isso porque no Brasil nós temos um sistema de dois turnos. Esse constrangimento tira do povo a decisão para levar para lambança dos gabinetes de Brasília. Por essa razão eu fui sacrificado na eleição presidencial passada. Quando é natural, se o partido existe, é para ele apresentar a sua cara, suas propostas, as suas ideias para a disputa. Dado que nós não fizemos há uma incoerência grave e eu cultivo lealdade, coerência, respeito à palavra empenhada. Esse é meu jeito de ser.

 

Há uma possibilidade de racionamento de energia elétrica e de apagões, no que pese a presidente descartar isso?

Ciro Gomes - Nós temos um problema na energia elétrica. O sistema está sucateado. Está velho. E isso é muito de desinvestimento na manutenção especialmente das nossas linhas de transmissão, do sistema interligado e temos um problema climático. Os reservatórios do Brasil têm basicamente a sua matriz hidráulica. E se você tem um ciclo de anos como o que aconteceu de baixa pluviosidade, especialmente nas bacias mais fundamentais do Sudeste, você tem uma iminência de desabastecimento sempre posta como uma espada de dama exposta sobre a cabeça do brasileiro. Mas agira está chovendo e é preciso aproveitar este alerta para fazer um programa mais agressivo de investimento, que aliás é a verdade para o setor de infraestrutura do País praticamente como um todo. Mas o setor energético corre risco sim, pois é uma das vedações ao direito e à necessidade do Brasil crescer a taxas mais aceleradas é o constrangimento da nossa infraestrutura. Toda ela. Portos, aeroportos, estradas, estradas e energia elétrica. Neste caso, neste momento, a turma do PSDB está adorando fazer um terror, mas há um componente climático absolutamente sazonal que muito brevemente estará se superando. Mas o sistema está sucateado, repito, por desinvestimento. Como tudo no Brasil.

O Brasil vai crescer em 2013?

Ciro Gomes - O Brasil não vai crescer não. Isso é ilusão de ótica. O Brasil em cima de uma base reprimida como foi o ano de 2012, podemos até chegar ai a uns dois vírgula fração de crescimento. Mas isso não o que nós precisamos. É bom lembrar que os emergentes o Brasil é o que menos cresce. Porque a ideia de puxar o crescimento do País por este conjunto de varejinhos ai, como renuncia fiscal de IPI para automóvel para fazer graça com o Sindicato de São Paulo; bobagenzinha aqui bobagenzinha acolá; isso não resolve o problema do País que tem deficit de transação financeira que o Brasil tem. Ou nós apostamos numa elevação da taxa de investimento do País ou da mão para boca nós não vamos mais para canto nenhum.

Qual a parceria que o Governo do Estado pode oferecer ao novo prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB). que recebeu uma Prefeitura com rombo de R$ 400 bilhões?

Ciro Gomes - Não porque faz parte do mesmo partido. Mas a administração que se encerrou foi assentada na lambança. Você veja os exemplos práticos. A Luizianne Lins fez carnaval com o Tasso Jereissati depois de ter licenciado aquela torre ali perto do Shopping Iguatemi. A Prefeitura licenciou, deu todas as coisas, enfim, Depois que estava tudo pronto, o prédio, ela estava numa crise política e inventou uma lambança e criou um caso. Mexeu com a cidade inteira. E a meninada preocupada com o Parque do Cocó prestou solidariedade com a tese dela. Ela é campeã nisso. Ela fez isso com o governador Cid Gomes, muitas vezes atrapalhando Fortaleza. A indústria naval que muito estranhamente muitas pessoas bobamente repercutem como se tivesse sido uma boa decisão, é uma indústria não poluente, porque todos os insumos vem pelo mar e toda produção sai pelo mar. Não tem repercussão no trânsito. Não repercute na geografia da cidade em nada. Quem quiser vá vê o estaleiro da dona Elisa Gradvoll, no lado do hotel Marina, que é um dos mais visitados pelos turistas, que não polui. Sem o estaleiro nós perdemos 14 mil empregos numa cidade que se desindustrializou e que no serviço não tem conseguido oferecer os milhares de emprego que os nossos jovens de nível superior precisam. Então é o fim da lambança. Agora é o seguinte é divisão de tarefas. Cooperação. Como deve ser independentemente de partido. E vocês vão assistir isso. Cada centavo que a Prefeitura de Fortaleza fizer de investimento, o governador já se comprometeu sobre liderança do prefeito de duplicar. Isso já recuperamos oitenta creches. A Dilma deu oitenta creches para Fortaleza. Não tem nada a ver com governador, com o mesmo partido, a administração da lambança não conseguiu. alegando que não tinha terreno. O Roberto Cláudio ofereceu terreno em 48 horas e recuperou as oitenta creches. Resultado que o governador está obrigado moralmente a entregar mais oitenta. E o filho do trabalhador e da trabalhadora que precisa de uma creche pára poder ir trabalhar e deixar sua criança na pré-escola com alimentação, assistência médica, psicológica etc agora vai ter 160 creches no lugar da lambança. A lambança acabou. Agora é trabalho com divisão de tarefas para resolver problemas.

A eleição de Roberto Cláudio fortalece Cid Gomes nacionalmente?

Ciro Gomes - Nós não elegemos o prefeito de Fortaleza. Vamos ter clareza. Nós fizemos uma aliança que envolveu no primeiro turno, 14 partidos e no segundo turno mais sete. São 21 partidos. Claro que o PSB tem o privilégio de ter a filiação do Roberto Cláudio, mas 2012 e a sua agenda tem a ver com a questão local de cada cidade. É bom a gente não extrapolar  para 2014, porque nunca foi historicamente isso. Agora o Cid está crescendo muito nacionalmente no respeito dentro do partido, no respeito fora do partido, pelo conjunto da obra. É o governador que pegou o Estado pobre do semi-árido e transformou no Estado de maior investimento per-capita do Brasil. E com parcos volume de investimento do Brasil. E não brinquedo isso. O Ceará só perde para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Isso não se replica no Brasil em lugam nenhum. Isso é um Cid.

Porque a agenda de demanda do Ceará está falsamente encaminhada?

Ciro Gomes - O Ceará precisa dramaticamente da política. Nossa geografia física é extremamente hóstil ao nosso povo e estamos saindo se Deus quiser, mas ainda não saímos ainda da pior seca dos últimos 50 anos. E a nossa agenda depende muito dos homens e mulheres que aceitam a vocação para a vida pública, para a vida comunitária. E a nossa agenda do Ceará está toda falsamente encaminhada. A nossa agenda estratégica. A Petrobras está fazendo onda de forma absolutamente desespeitosa com a palavra empenhada pela presidenta Dilma e pelo ex-presidente Lula com a nossa Refinaria. O projeto São Francisco está escandalosamente descontinuado, inclusive já com prejuízos graves para o Erário. A Transnordestina está sendo tocada de uma forma irresponsável para os interesses estratégicos do Brasil e o Nordeste. A Siderúrgica saiu depois de muita luta, muita briga, muito conflito e muita sabotagem por parte da antiga administração da Petrobras. Enfim, se a gente não tiver aqui em Fortaleza, aqui no Ceará, homens e mulheres dedicados à vida pública que não tenham o rabo de palha para brigar pelas nossas coisas, o Ceará não avança.

O senhor falou para jovens empresários o que o senhor disse para eles?

Ciro Gomes - Hoje a coisa que mais comove na vida pública é a juventude, é ajudar os jovens a compreender fora das interdições e preconceitos ideológicos a nossa realidade brasileira. Não só na denuncia das nossas malezas, mas na formulação de uma metodologia de solução dos nossos problemas. Chega desse negócio de prometer o futuro para os nossos jovens. Temos que fazer é o presente para os jovens.

O que o senhor tem a dizer sobre o questionamento do Ministério Público Contas em relação ao pagamento de R$ 650 mil para Ivete Sangalo cantar na inauguração do Hospital Regional Norte?

Ciro Gomes - É papel do Ministério Público velar sobre os interesses difusos, a probidade, o patrimônio histórico. Tudo isso. Está tudo certo. Agora esse exibicionismo juvenil de alguns jovens militantes do Ministério Público que aos fazerem os seus procedimentos o fazem nos jornais e não pelos devidos meios; é um processo errado, porque há moralidade envolvida nisso. Há honradez envolvida nisso. Há um bom direito das autoridades serem respeitadas como decentes que é um valor tão grave e importante quanto o respeito que se deve ao Ministério Público.

Como comentarista esportivo como o senhor avalia a convocação da Seleção Brasileira por parte de Luís Felipe Scolari?

Ciro Gomes - Gostei da convocação. Senti falta do Kaká, mas acredito que na próxima convocação ele vem. Como fui contratado pela Rádio Verdes Mares para comentar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014 só vou estrear nessas competições, acompanhando com minhas análises a Copa das Confederações e a Copa do Mundo.