Gonçalo Junior - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Na hora em que morreu, o motorista Fábio Luiz Pereira tirava um cochilo. O montador Ronaldo Oliveira dos Santos provavelmente usava um dos banheiros químicos. Era hora do almoço e nenhum dos dois participava da operação que causou o acidente. Corintianos na medida certa, como disse um amigo, "sem loucura", os dois tinham um orgulho enorme de trabalhar em uma "obra de primeiro mundo", palavras de Ronaldo.
Brincalhão e engraçado, o limeirense Fábio era um dos mais animados na festa de aniversário do chefe, José Augusto Sartori, feita na filial da transportadora BHM, em São Paulo, na segunda-feira. Durante a semana, dormia no alojamento da firma terceirizada pela Odebrecht e, aos sábados, ia para sua terra natal encontrar a mulher e as três filhas - a mais alta da escadinha tem 20 anos. Às vezes, Fábio fazia a viagem de 150 quilômetros com Sartori. "Não era só o lado profissional, tinha amizade também", diz o gerente.
O cearense Ronaldo era mais calado. Era um dos montadores dos 600 assentos especiais da arena, que vão ficar nos camarotes. Divorciado, tinha uma filha. Morava na Zona Leste mesmo, perto da obra, e dificilmente participava dos churrascos na hora de folga.
Fábio era motorista de caminhão, mas trabalhava nas obras do estádio como operador de munck, caminhão que tem uma espécie de guindaste na carroceria. Líder da equipe, ele era bom no que fazia.
Eles não se conheciam, já eram quarentões (Fábio, 42 e Ronaldo, 44), mas não eram anônimos no mar de 1.600 operários que trabalham no estádio. "Tem muita gente lá, mas ele era especial para a gente", diz um amigo de Ronaldo.
Hoje os parentes vão fazer a liberação dos corpos no Instituto Médico Legal de Artur Alvim, em São Paulo. O corpo Fábio será levado para Limeira, e o de Ronaldo para o interior do Ceará. "O trabalho não andou hoje (ontem). Quando morre alguém próximo, a gente fica aéreo, pensando na vida", diz uma das colegas de Fábio.
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