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Seca secular

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Cassio Borges
13:19 (1 hora atrás)

Caros amigos
Envio-lhes esta matéria publicada, domingo, dia 11, no Jornal O Povo, de Fortaleza intitulada Planeta Seca. O que me  causa indignação é que se passaram anos a fio com muito blá-blá-blá dos “salvadores da pátria” com fórmulas  mirabolantes que somente agora neste ano de 2012 se desnuda  com este horripilante quadro da realidade  nordestina que não se pode mais esconder.  Estão a olhos vistos, como mostra esta reportagem do referido Jornal. Obras como o Açude Castanhão, o Canal da Integração e a propalada Gestão das Águas incrementada pela  COGERH eram apontadas como solução definitiva para o secular problema das secas no Estado do Ceará. Falou-se em mais de duas dezenas de  anos no Canal do Rio São Francisco mas este até agora ficou só nas promessas. Suas obras, atualmente, estão praticamente paralisadas. O Eixo Leste, com 48% e o Eixo Norte, com apenas 19%. Outras obras vão sendo prometidas e esquecidas ao longo do empo como os “anéis da água”, o “caminho das águas”, a “interligação de bacias”, o  “cinturão das águas”, a “mistura de rios”  que são expressões românticas que nos induzem a pensar no bonito e no belo.

Nunca se sofismou tanto em matéria de recursos hídricos no Ceará como nestes últimos vinte anos. Pelo que se ouve e se lê na imprensa local, o Estado do Ceará atingiu o “apogeu” da tecnologia  no trato da questão da água em regiões semiáridas. Tudo está absolutamente equacionado e sob o mais absoluto controle. O DNOCS já cumpriu o seu papel, dizem os seus mais ferrenhos opositores: “é um órgão muito velho, portanto deve ser extinto”, como afirmou o atual ministro Fernando Bezerra. Mas não é só ele que faz este tipo de afirmação. Em Brasília há uma corrente que, há anos, alimenta este pensamento e advoga a extinção do DNOCS por inanição.  E ele já foi extinto em 1999 pelo então presidente FHC. Para que o DNOCS se aqui no Ceará existe a COGERH que, diga-se de passagem,  ocupa todos os espaços que a mídia lhe oferece para fazer propaganda institucional em torno dela? Com isso, sem dominar um  assunto tão complexo e nem conhecer a realidade (o DNOCS simplesmente se omite), a sociedade pode  ser induzida a considerar que o DNOCS pode, realmente,   ser dispensado. É uma pura questão de “marketing” que merece, no mínimo, uma discussão.

Segundo os idealizadores  desse  modelo de gestão dos recursos hídricos (com o Açude Castanhão, Canal da Integração, etc.) não haverá  mais  seca e nem faltar água em qualquer ponto do sertão cearense.  No caso do Projeto de Integração do Rio São Francisco, perdeu-se mais de vinte anos  discutindo-se  qual  a vazão que deveria ser retirada  daquele manancial para a região setentrional do  nordeste brasileiro. Se tivessem acatado a minha proposta de 50 m3/s a obra já poderia estar  concluída. Felizmente, graças ao ex-ministro Ciro Gomes, o projeto definitivo foi reduzido a 26 m3/s e, excepcionalmente, pra 127 m3/s quando a Barragem de Sobradinho estiver com 90% de sua capacidade. Esta última hipótese me parece pouco provável  haja vista que na atual seca que assola toda a região nordestina, a Barragem de Sobradinho está com apenas 24% de sua capacidade total de acumulação. Provavelmente quando ela estiver cheia, aqui, também, deveremos ter chuvas abundantes não necessitando, portanto, de aporte de água de outra região. Com 50 m3/s a obra teria uma custo de implantação e manutenção evidentemente muito menor.

Já que falamos no Açude Castanhão, o mesmo foi construído para acumular 6, 7 bilhões de m3 de água. Eu o defendia com uma capacidade de 1,2 bilhão de m3 que, inclusive evitaria  a inundação da cidade de Jaguaribara. Em contrapartida, o Açude Aurora seria construído no Rio Salgado com 800 milhões de m3. Esta minha proposta, lamentavelmente,  também não foi aceita. O Rio Salgado continua sem controle.  Vendo o quadro da Situação dos  Açudes  Públicos Construídos pelo DNOCS, elaborado, diariamente, por uma equipe constituída de dois engenheiros e de dois auxiliares daquele Departamento Federal, observa-se  que o Açude Castanhão, em 31 de outubro p. passado, estava  com uma acumulação superior a sua  capacidade de regularização (cota 100m) que é de 4,5 milhões de m3. Ele estava, portanto,  cheio, com 4,9 bilhões de m3. Enquanto isto, o Açude Orós estava com 88,12% de sua acumulação total que é de 2,0 bilhões de m3. Como se sabe, ambos reservatórios  foram construídos no leito principal do Rio Jaguaribe distando um do outro em apenas 150 quilômetros, aproximadamente. Dessa situação, se vocês me permitirem, tiro a seguinte conclusão: O Açude Orás perdeu a sua finalidade. Hoje é um mero repassador de vazões  para o Açude Castanhão, como que estivesse servindo apenas para compensar a evaporação deste.  

Ao concluir este desabafo, que peço desculpas aos meus web-leitores, só gostaria de  lembrar a construção da Adutora do Oeste no sertão pernambucano, projetada e construída pelo DNOCS,  transportando do Rio São Francisco uma vazão de apena  1 m3/s (eu disse, hum metro cúbico por segundo) atendendo  a  41 municípios (cidades ,vilas e povoados).  Portanto, para se “conviver” com a seca não é preciso obras miraculantes como é o caso do Açude Castanhão e o Canal da Integração que foi projetado e está sendo concluído para transportar 26 m3/s. Até o ano passado tudo parecia que o setor de abastecimento de água no Estado do Ceará estava muito bem. A seca deste ano de  2012 veio mostrar a face cruel de uma realidade que se procurava esconder, ou ignorar, ou iludir-se e cobrar das autoridades o seu alto preço pela imprevidência. Cássio

P.S. – Posteriormente vou explicar porque a Usina de Belo Monte que está sendo construída no Rio Xingú, no Pará, tem tudo a ver com a solução da problemática da seca na região nordestina.



Veículo: O Povo Cidade: Fortaleza Editoria: Planeta Seca Coluna: Jornalista: -
Data: 11/11/12 Pág. Capa/1-16 5148 cm/col. Tipo de mídia: Impresso 

Sanfonia choradeira


Como revisitar um cenário tão familiar e, ao mesmo tempo, tão diferente? Diante da seca que, mais uma vez, assola o Ceará, este é o desafio a que nos propusemos. Um olhar diferente é preciso nestes tempos de 2012. Os signos são os mesmos. As estratégias que vêm sendo implantadas pedem mais complexidade na observação.
Com esta constatação, os profissionais do O POVO pegaram a estrada. Por onde quer que começassem o roteiro, se deparariam com o que a seca traz de devastação.
Logo os jornalistas Cláudio Ribeiro e Demitri Túlio, a fotógrafa Sara Maia e o motorista Valdir Gomes viram o cenário que é uma construção da nossa cultura: carcaça de gado abandonada na secura da estrada, ronda dos urubus, vegetação seca, água escassa e fome rondando.
Eles percorreram mais de 2 mil quilômetros, durante seis dias. Passaram por 16 municípios e outros tantos confins e cafundós. E, se pelas zonas rurais, lugarejos e cidades encontraram as marcas dramáticas da falta de chuva, também viram outras realidades.
Já não se migra tanto. Já não se vê as levas de retirantes saqueando. Os lugares de nascença do cearense já não se tornam terra de mulheres sem marido e filhos esqueléticos.
Na narrativa dos jornalistas, a busca de dar conta de todas essas questões. É fato que se diminuiu o impacto social da seca e se pode notar uma convivência renovada com o fenômeno, não se pode ignorar a necessidade de políticas permanentes e criativas para reduzir a insegurança hídrica e alimentar.
Afinal, como observa o jornalista Gilmar de Carvalho, a seca não é novidade. É exceção. E, dessa forma, ele alerta: “A convivência com o semiárido implica em criatividade, em práticas que levam a uma convivência mais amistosa com a terra”. E pede a proposta de uma nova estética, de uma nova linguagem, “para um enfrentamento efetivo dos problemas crônicos.”
Enquanto isso, para a narrativa que segue nestas páginas, os repórteres Ana Mary C. Cavalcante, Cláudio Ribeiro, Demitri Túlio e Émerson Maranhão foram beber na fonte do baião e no fole da sanfona do centenário de Luiz Gonzaga, cuja cantoria se espraia como a pintura clássica do nosso drama.

Boa leitura!

Projeto Grático

Vertigem branca

Entre a luz cortante que cega e sangra a paisagem e os galhos da mata branca que espetam a vista, o projeto gráfico do especial Planeta Seca faz seu traçado rasgando as páginas.
 A tipografia, que remete aos galhos e cicatrizes, marca as fotos, atravessando de forma violenta o deserto com seus seixos, carcaças e histórias de gente que quer vida.
As colunas de texto, em contrastes de tamanhos, tremem a retina feito vertigem de calor e desordenam intencionalmente a leitura.
 A simplicidade é complexa. O minimalismo deixa ao observador aquilo que resta. E não é pouco: é branco, é seco, é incômodo e, por que não dizer, é desesperador. Existe beleza, também.
Tudo isso serviu de inspiração para essa narrativa visual que escoa através desse sertão recriado de papel jornal e tinta. (Gil Dicelli)

Cafundos de um povo do sol


Setembro passou / outubro e novembro... / meu deus, que é de nós, / meu deus, meu deus / assim fala o pobre / do seco nordeste - "a triste partida"

SARA MAIA

Notícias chegaram de Ematuba (nos Inhamuns) quando fizemos pouso na desertificada Irauçuba (região Norte do Ceará). Um cafundó distante 36 km da sede do município de Independência. De Emiliano Nunes, um jovem técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematece), as informações eram de que a pindaíba de gente e gado, por lá, era extremada.
E, sem exageros, os relatos feitos por Emiliano não incluíam a dificuldade para se chegar até o destino. Trinta e seis quilômetros transformados em muito mais (ida e volta) de uma estrada carroçável e solavancos. Chega-se ali quem é repórter ou quem tem algum negócio certo. Ou não se aguenta de saudade do lugar onde se rebentou um dia. É longe Ematuba. E na seca parece que fica mais distante.

A maioria das pessoas, conta Maria do Zé Evandro, chega uma hora que não suporta mais e vai embora do distrito que só tem como certa a água da chuva. Isso quando chove, mesmo ruim, durante o “inverno”.
Falta água e todos que prometeram levar abastecimento para lá nunca cumpriram as promessas. Desde que Maria de Zé Evandro se entende por gente, hoje tem 64 anos, e o marido, 72, vê “o povo que nasceu no sol” ir embora. De cabeça, somou 50 casas que foram se esvaziando da paciência. Mudaram de praça. Foram para sede em Independência, Crateús e Fortaleza. Restam uns 500 crédulos (sede, sítios e fazendas) ou conformados com a situação que piora nos meses de estiagem.
Maria de Zé Evandro, nascida Maria do Socorro de Almeida Gomes, decidiu entrar na política pela porta da Câmara Municipal de Independência. Pra ver se mudava o destino de Ematuba. Mas nem como vereadora conseguiu água para os canos do lugarejo. Um arraial, povoado típico dos sertões inimagináveis, surgido ao redor de uma matriz visitada aos domingos por um padre passageiro. O padroeiro, por ironia ou propósito, é São José.
Na pasta de peleja de Maria de Zé Evandro há uma infinidade de documentos. Pedidos e pareceres sobre a viabilidade de se trazer água. Um documento do Governo do Estado, datado de 2007, desfaz a esperança de implantação de um sistema de abastecimento via Projeto São José. O pequeno número de beneficiários e as distâncias dos manancias “de água salobra” foram as justificativas para emperrar a possibilidade de uma obra.

Em 2009, a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) se recusou a analisar o “pleito” por “água federal” porque a Prefeitura de Independência não costumava prestar contas de acordos firmados com o governo em Brasília. E, no ano passado, uma tomada de preço para a construção de uma adutora ficou pelo meio do caminho dos interesses políticos.
Na seca as coisas se agravam. Dia sim, dia não, um carro-pipa estaciona em frente ao patamar da igreja e despeja oito mil litros d´água num tanque. Quem chega primeiro enche as burras, as vasilhas e os “manés-magos”. Uma vara longa sobre duas rodas e de se sustentar nos ombros. Transporte, geralmente empurrado pelas mulheres de Ematuba. Feito Cícera Tomé Mendes de Oliveira, 45, que carrega de uma vez só sete botijões ou 140 litros d´água no lombo. “Dá para beber, cozinhar e tomar banho por dois dias”. Na casa dela não tem marido e há dois filhos adolescentes.
“Meu amigo, o homem já foi à lua, está perto de ir a Marte e nenhum governador, prefeito ou político trouxe água para Ematuba. Pode?”, ironiza Zé Evandro de dona Maria. (Demitri Túlio e Cláudio Ribeiro).

Nem palma nasce mais

No sol de lascar da localidade Santa Cruz, em Independência (309 Km de Fortaleza), região dos Inhamuns, a roça de palma não vingou. Por falta de água mínima, qualquer umidade, sereno da noite que fosse. Triturada ou cortada em tiras, a palma espinhenta serve de comida para o gado e qualquer bicho esfomeado das brenhas do Ceará. 
 Francisco Gerôncio Soares, 45, mostra o plantio, justamente numa área atendida pelo projeto de suporte forrageiro. As palmas foram fincadas no chão duro em julho. Desde abril o céu já era sem nuvem. Só esperança não aduba a terra. E as palmas envergaram murchas.
“Tentamo palma, leucena, sorgo, mas cadê água? Tem o que vingue, não”, diz Gerôncio. Estende o braço e mostra o cercado perdido. Um hectare de palma e mais dois para a leucena. Iria tudo para o gado esfomeado.
Para ter como matar o ócio e reforçar o ganho de casa (de mulher e dois filhos), Gerôncio vai a outras propriedades oferecer serviço. Cobra R$ 3,50 pela braça (medida equivalente a 2,5 metros). “Tô fazendo uma de mil braças. É o que a gente tem pra fazer aqui, viu?”. (CR/DT)

 

 



Artimanhas de sobreviver


Não nasceu capim no campo para o gado sustentar O sertão se estorricou, fez o açude secar- "vaca estrela e boi fubá"

SARA MAIA

A aridez extrema do clima em Pentecoste, pegando fogo às 10 da manhã, não desfez as aulas na Escola de Ensino Infantil e Fundamental João Rodrigues Cordeiro. Sim, alterou o cotidiano de três professores e dos 47 estudantes de 3 a 16 anos que experimentam do maternal ao 7º ano. Por causa da falta d’água, na manhã em que estivemos no lugarejo de Sítio do Meio (um poeiral grande quando o automóvel passa e caatinga desmatada), a aula teve de terminar mais cedo. À tarde não funcionou. 

 Naquele dia (e em alguns outros) faltou água de beber e para cozinhar a merenda. Mas Lindomar Rocha de Alcântara, 39, professor polivalente, pai de aluno e coordenador do colégio, se desdobrava em sua moto nas estradas de areia e pedra para resolver o reabastecimento de uma cisterna e uma caixa d’água de 5 mil metros cúbicos. O carro-pipa viria, estava certo. “Nesse tempo é assim mesmo. Mas a escola não fecha”, garantia na palavra. Confiante.
Fechar, fechar, não é a seca que põe em risco a continuidade da escola municipal. Pior do que a estiagem, confidencia Lindomar Rocha, são os “interesses imprevisíveis da politicagem”. Em 2009, a pequena João Rodrigues Cordeiro só não parou de funcionar porque o professor reuniu boa parte das 72 famílias da Associação de Moradores de Sítio do Meio para que evitassem um prejuízo ainda maior para meninos e meninas daquele pedaço do semiárido.
A justificativa para o fechamento, explicava Lindomar Rocha, seria uma atecnia burocrática que retirava da escola o direito de receber investimentos dos governos Federal e Estadual. Porque funciona num prédio da Associação de Moradores é como se não existisse no mapa do Ministério da Educação. “Em 2008, depois de muito impasse e reuniões, a Secretaria da Educação de Pentecoste e do Estado prometeram construir um novo espaço para abrigar a escola”, pontuava.
Mas a interferência de um vereador à cata de eleitores e a reclamação de que a nova escola seria construída distante das casas dos estudantes de Sítio do Meio inviabilizaram a obra. Enquanto isso, relatórios da própria Vigilância Sanitária de Pentecoste atestam, desde então, “que o teto tem de ser refeito, que as paredes estão rachadas, que as portas têm de ser trocadas e novas carteiras adquiridas...”, mostrava, papelada na mão, Lindomar Rocha.
No dia em que estivemos em Sítio do Meio seguindo o rastro da seca deste ano, numa manhã de uma terça-feira (16/10) de mormaço, o burburinho de alunos nem passava recibo sobre os problemas ali existentes. Porque o transporte escolar está quebrado há meses, boa parte da meninada ia voltar pra casa a pé. Acompanhados hora pelo que ainda resta de mata branca ou por grandes vazios de pasto e desertificação. E também pelo incentivo de um professor que não se rende aos tempos de deserto: seja político, seja da natureza.
*O POVO entrou em contato com a Secretaria da Educação de Pentecoste por telefone e email, mas não obteve retorno. (Demitri Túlio/Cláudio Ribeiro)
 47 ALUNOS de 3 a 16 anos estudam na Escola de Ensino Fundamental João Rodrigues Cordeiro, em Sítio do Meio (Pentecoste), dirigida pelo professor Lindomar Rocha

ESTOU NO CANSAÇO DA VIDA / ESTOU NO DESCANSO DA FÉ / ESTOU EM GUERRA COM A FOME / NA MESA, FIO E MULHER / SER SERTANEJO, SENHOR, / É FAZER DO FRACO FORTE / CARREGAR AZAR OU SORTE / COMPARAR VIDA COM MORTE - “TERRA, VIDA E ESPERANÇA”
 ERA TEMPO DE PESCAR PASSARINHO
Noutras secas, fome matava gente. Se não levasse um, deixava menino de costela magra, desmastreado, e desespero na cara dos pais. Era reza e o improviso de comer qualquer coisa para matar a fome. Até dia desses, em Apuiarés, também era assim. Agora parecem só histórias. 

 Os nascidos no arrastado das secas dos anos 1970 e 1980 trazem isso como marca de suas infâncias. Numa roda de conversa, diretores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apuiarés vão lembrando. Elizângela Neres nasceu no ano da seca de 1981. Aquele estio começara em 1979 e prolongou-se até 1983. “Lá em casa passamos fome, sim. A gente comia feijão com açúcar”, diz.
“E feliz de quem tivesse o feijão”, completa Idavan Vieira, 40, presidente da entidade. Na precisão, o pai dele safava a família caçando preás, tejos, pebas... “Hoje, num ano desses de seca, nossos filhos escolhem qual biscoito comer.”
Vicente Andrade, 39, fala de “pescar” passarinho. “Estendiam a tarrafa no meio do mato e os passarinhos ficavam presos na rede. A gente comia passarinho frito e farinha. Era milho torrado e água, pra descer”.

Os avós lhes contavam que, na seca de 1958, enchia-se prato e bucho era com cuscuz de semente de mucunã. Foi a comida de seus pais . O caroço preto, lavado em nove águas para largar o amargo, depois pisado no pilão, servia de forro ao estômago vazio. Enganava. Lembra que a paga dos bolsões da seca para seus pais era em litros de farinha. “Nossos filhos hoje não acreditam que já foi assim”, diz Idavan.(CR/DT)

Urubú não dá conta


Qque braseiro, qe fornaia / nem um pé de 'prantação' / por farta d´água perdi meu gado- "Casa branca"

SARA MAIA
Parece mesmo seca das antigas. Nas fazendas Rancho da Mata e Castelo, em Morada Nova, “urubu não dá conta”. A frase, do próprio dono, é definitiva. Desoladora. As aves carniceiras têm se banqueteado neste tempo de estio, diz o pecuarista José Nobre Granja, 45. Suas propriedades têm bicho morto espalhado por toda parte. De fome. De 450 cabeças do rebanho bovino, perdeu 150 até o início de outubro. Ovelhas e cabras, morreram 450 das 750.
As carcaças estão espalhadas. “Se a gente fosse enterrar...” 

O patrimônio de Aleluia, como é conhecido, feito ao longo de 20 anos justamente na compra e venda de gado, reduziu-se a menos da metade. Bastaram seis meses deste 2012. A estiagem bateu forte, o rebanho afinou, fraquejou e caiu. Chão duro, seco, sem pasto algum, e a falha na distribuição de milho do Governo Federal ajudaram a piorar.
No balcão da Conab, Aleluia teria direito a comprar até 288 sacas do grão por mês. “Pois tava recebendo uns 10 e olhe lá. Mas faz mais de mês que não vem”, afirmou. Isso na segunda quinzena de outubro. No início deste novembro, começou a normalização do estoque regulador com a chegada do milho que estava atrasado.
Para alimentar os bichos, teve que se arranjar. O pecuarista comprou fardos de palha de arroz, pagou resíduo e farelo caro e aplicou vitamina nos bezerros que bambeavam. Até improvisou. Fez uma gambiarra e armou um maçarico, com uma mangueira e botijão de gás de cozinha. Para queimar os espinhos de xique-xique crescidos em suas terras. A planta acumula água e era o que gado estava mascando. Só os que ainda tinham força para caminhar. “Os novilhos tão tudo fraquinho”.
Aleluia tem este ano como o mais severo dos seus dias de criador. Produzia 1.200 litros de leite por dia, baixou para 400. “Havia comprado várias vacas leiteiras de R$ 2.500. Perdi quase todas. Perdi dois reprodutores holandeses puros. Um de R$ 9 mil e outro de R$ 5 mil”. Tenta um empréstimo bancário, para frear a bancarrota, mas não tem mais o que dar de garantia e o crédito é negado.
Aleluia é dos criadores mais ricos. É um exemplo dos grandes. E dos muitos, os que tinham poucos bichos e ainda perderam? Feito seu Gerardo Joaquim Rodrigues, de 66 anos? No distrito São José, em Irauçuba, onde mora, dele derrearam duas das 13 vacas. Outro, seu Maurício de Araújo Chaves, 90, recuperando-se de uma cirurgia, perdeu “umas 15” das 50 cabeças. “Tem mais duas fraquinhas ali...”. Irauçuba tem passado por alta mortandade do gado, diz Emiliano Nunes, técnico da Ematerce.
Impossível contar as perdas animais. Nas 16 cidades percorridas peloO POVO, histórias dessa mortandade animal. E carcaças no caminho. Em Banabuiú, teve mais problema, afora a falha na distribuição de milho. Apesar do grande açude ao lado da cidade, falta água para os rebanhos de grandes criadores. Desde maio, segundo a assistente técnica da Defesa Civil do Estado, Ioneide Araújo, o órgão recebeu o pedido de criadores para que os carros-pipa também levem água para dar aos animais.

Em Irauçuba, segundo Emiliano Nunes, esse quadro piorou também. Pelo critério do Exército, que coordena a Operação Pipa, a água dos caminhões é somente para consumo humano. Sem ter o que beber, as reses obviamente berram para morrer.
Mesmo no meio de tanta lamentação, é o próprio seu Maurício, de Irauçuba, que lembra: “No tempo de meu nem água tinha. Hoje até tem ali no Boqueirão. Seca sempre foi seca. Hoje tá é melhor. Antes nem tinha nada”. Ioneide Araújo, entende que “a seca de hoje é pior, mas tem mais suporte”. Imagine se pior estivesse... (Cláudio Ribeiro/Demitri Túlio)

E VENDE SEU BURRO / JUMENTO E O CAVALO / INTÉ MESMO O GALO VENDERAM TAMBÉM / MEU DEUS, MEU DEUS / POIS LOGO APARECE / FELIZ FAZENDEIRO / POR POUCO DINHEIRO / LHE COMPRA O QUE TEM - “A TRISTE PARTIDA”

REBANHO
José Nobre Granja,de Morada Nova, perdeu 150 cabeças de gado de um total de 450. No período de seis meses também perdeu mais da metade do rebanho de ovelhas e cabras. Diz que há carcaça em toda propriedade
 GADO VAI, VOLTA METADE
De há muito, sempre nos tempos de seca, o caboclo tangeu para os pés-de-serra suas bezerras e vacas de corte e leite. Para que escapassem da fome no terreiro sem pasto. Ficavam em propriedades de amigos, com a paga pelo local. Isso passa hoje por adaptações de mercado, para usar o tom dos negócios.

 Agora, para transferir seu rebanho castigado pela estiagem, o pecuarista (pequeno, médio ou de grandes criações) manda seu rebanho para alguém e recebe só a metade dele de volta. No sufoco, sem ter como bancar o alimento do bicho, negócio fechado!
Muitas vezes, o interessado que oferece a transação ao criador é até desconhecido. No termo técnico, o acordo é chamado de subpastejo - agora, nessas condições. Quando inverna, a chuva chega, as reses são devolvidas. Devidamente recontadas para menos.
“Tem criador aqui que deu 400, 500 cabeças, e pegou só a metade de volta. Agora é assim. É o jeito”, conta seu Maurício Rodrigues. Se tentar vender, a perda é pior. Experiência própria, ele teve gado que já valeu R$ 2.500 e “hoje não tem quem dê R$ 700”. (CR/DT)

Água de uns


SARA MAIA

Para muitos encontrados no rastro desta sequidão, a água de beber só entra no copo e na panela de cozinhar se for a dinheiro vivo. Não há fiado. Se não pagar, não tem. Mesmo com os quase 700 carros-pipa gerenciados pelo Exército Brasileiro, a água é pouca. Porque a demanda é demais. E aí parte-se para o negócio da seca. Matar a sede na cédula.

Em Irauçuba, o tanque que é de carregar tilápia em tempos de fartura vira carro-pipa improvisado e dá lucro. A caixa plástica semitransparente vai para cima de carrocerias e circula para venda do líquido. Surge um, os meninos largam o campo de futebol, param até a bola. Gritam avisando aos pais que lá vem o caminhão.
É R$ 2,00 que o caminhoneiro paga para coletar água na beira do açude de água suja, esverdeada. Mas ele a revende por R$ 25,00, R$ 28,00, até R$ 35,00, a carga de um tanque de mil litros. No distrito São José, o veículo para em frente às casas e logo dá correria. A mangueira vai para a boca dos baldes plásticos, tonéis e qualquer vasilhame maior.
“Dizem que se lucra até R$ 1 mil por dia. É mesmo muita gente procurando”, diz Emiliano Nunes, técnico da Ematerce no município. Dá fila, mesmo que pela manhã o pipa oficial do Exército já tenha passado derramando água nas cisternas e recolhendo o tíquete comprovando a entrega.
No critério do Exército, a água distribuída é medida em 20 litros/pessoa, a medida de um balde caseiro que mal dá para um banho decente. Mas é esse o jeito. Outra regra do carro-pipa oficial: a água só é entregue em cisternas distantes 500 metros umas das outras. Por isso a população se vê obrigada a comprar dos demais pipeiros.
Em Itapajé, cidade vizinha que ainda não tem um açude para abastecer a própria sede municipal - terá somente com a inauguração em breve do açude Ipu -, a rotina urbana de se comprar água não é diferente. “Moro aqui na sede e se não comprar água, ora, não tenho o que beber em casa”, diz o gerente da Ematerce para Itapajé e Irauçuba, Fernando Mesquita Araújo.
Segundo ele, 65% da população de Itapajé vive na sede do município e é abastecida por cacimbões do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) instalados no alto da serra, mas o atendimento é insuficiente. E na seca piora. “Pago R$ 12,00 por mil litros d´água. É o jeito”, admite Mesquita.
No distrito de Ematuba, a 36 km de estrada carroçável da sede de Independência, sem nem canos para trazerem água em tempo de inverno, paga-se inevitavelmente. Dona Maria do Socorro Almeida Gomes desembolsa R$ 35,00 para cada 3 mil litros. Que só darão para os próximos 15 dias. De beber, ela ainda tem recursos para pagar por garrafões de água mineral - a R$ 5,00, cada. E quem não tem essa condição financeira?
Em Pentecoste, dá até intriga de vizinhos. Vamos poupar nomes nessa história para não piorar discórdia - até entre os que são parentes. “Ela é minha afilhada, mas cismou de dizer que não passo água”, diz a dona da casa que recebe água a cada três dias.
Pela regra, a água deveria ser também para os moradores próximos. “Pois tenho essa cisterna há quatro anos e nunca botei água se não fosse comprando. Veio até um candidato a vereador aqui na eleição passada e me deu dois pipas. Mas dela aí - a madrinha vizinha - nunca pedi”, conta a afilhada. Pentecoste tem cinco rotas da Operação Pipa do Exército. Abastecem cisternas de 5.495 pessoas de 132 localidades. E a água ainda não dá. Mais tivesse, mais precisaria. (Cláudio Ribeiro/Demitri Túlio)

VENHA VER MINHA CHOUPANA / É DE CORTAR CORAÇÃO / ESTE CABOCLO SOFRENDO / POR FALTA DE PROTEÇÃO / E O QUE VEM / DE LÁ PRA CÁ SEU DOTÔ / NÃO CHEGA, NÃO- “QUEIXAS DO NORTE”
 CASAR E FENECER NO ESTIO

”Macambira morre, xique-xique seca, juriti se muda...”. O trecho da cantiga, de autor não identificado, está na memória e no discurso de João Cordeiro de Souza, 80. É dele a necessidade de falar sobre a seca deste anos e compará-la com outros tempos de retirada e precisão extrema. 

 A experiência de 2012 para o agricultor, e dono de alguns hectares de muita areia na comunidade de Macambira (Pentecoste), foi pior do que a vivida em 1958.
Naquela seca, recorda, “as grotas e os açudes ainda resistiam mesmo em outubro. Hoje, os quatro barreiros que tenho estão todos secos”.
O medo de seu João Cordeiro, de aparência largada e metido num calção frouxo, é morrer meio ao tempo ruim. “Casei na seca, em 1958, e talvez morra também no tempo dela”, diz do agouro. (DT/CR)

Seca terrívi


Ai nordestino, de arribação, cenário de dor e de calvário, ai muda a face desta provação... Do céu há de vir solução- "Jesus sertanejo"

O que técnicos da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) classificam como a sexta pior seca, ocorrida no Estado desde 1958, pode ser medido em pessoas e lugares. Os últimos dados da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará, atualizados em fins de setembro, revelam: 1.884.338 pessoas, moradoras dos 178 municípios que declararam estado de emergência, foram afetadas pela estiagem de 2012. Apenas seis cidades cearenses não compõem este mapa. 

 Perdas agrícolas e dificuldade de acesso à agua traçam o retrato dos atingidos. A quantidade de chuva, entre janeiro e maio (período demarcado como a “quadra chuvosa”), ficou abaixo da média – entre 33% e 54% negativos - em todas as macrorregiões do Ceará, observou a Funceme.
Foram 352,1 milímetros registrados, colocando 2012 no ranking das piores estiagens desde quando a Funceme iniciou o monitoramento, relata o meteorologista Paulo José dos Santos: 1958 – 230 milímetros, 1998 – 270 milímetros, 1993 – 290 milímetros, 1983 – 315 milímetros e 2010 – 320,7 milímetros.

Somando relatórios da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) e da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), calcula-se em 69,37% as perdas na safra total. A SDA avaliou a produção de grãos em sequeiro (oleaginosas, cereais e leguminosas), típica do semiárido, e mandioca, entre janeiro e julho – o tempo da safra de 2012.
“Dos 182 municípios avaliados - considerando a safra de grãos e mandioca - 166 sofreram perdas maiores que 50%. Destes, 87 sofreram perdas acima de 80%”, sublinha o 13º relatório “Situação da Safra Agrícola de Sequeiro” (SDA). Colheu-se menos 85,85% do que se esperava. Em síntese, deu-se a “pior safra dos últimos 17 anos”.
Os sertões de Inhamuns/Crateús e de Canindé, o Vale do Jaguaribe e Sobral estão entre as regiões mais afetadas pela seca de 2012. E quando a plantação morre de sede, o homem padece com a fome: Crateús (74.249 atingidos), Crato (65 mil atingidos), Tauá e Cascavel (37.667 atingidos, cada) espelham os cidadãos da estiagem. “Temos uma insegurança alimentar e hídrica maior. O Estado não produz o que é necessário para seu consumo”, avalia Marcus Vinícius de Oliveira, diretor técnico do Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria (ONG atuante no semiárido cearense desde 1974).
Ele explica que a insegurança hídrica está na baixa dos reservatórios – açudes ou cisternas. Já a insegurança alimentar vem anexa à alta nos preços dos alimentos. E o agricultor passa a comprar o que não conseguiu produzir, como o milho e o feijão. “E há uma descapitalização grande, quando ele vende os animais que serviam de ‘poupança’”.
Entre perdas e danos, de algum modo salvaram-se todos por uma convivência renovada com a seca. “Políticas assistencialistas”, relaciona o especialista, “diminuíram o impacto social” da estiagem no Ceará. Não se veem mais as levas de retirantes ou os múltiplos saques dos famintos, literariamente retratados por jornalistas e escritores.
“A previdência social chega ao campo, no fim da década de 90. Fernando Henrique começa o programa de transferência de renda e o Lula prosseguiu. Isso mudou o perfil no campo e diminuiu a vulnerabilidade dessas pessoas”, aponta Marcus Vinícius. Ao passo em que avançam projetos de boa convivência com o semiárido – como Um milhão e cisternas e P1 +2, uma terra e duas águas. “Outra questão é a ambiental, os agricultores já têm como preocupante. O cuidado com seu espaço aumentou. E a água é vista como um bem”, completa.
Hoje a desesperança do sertanejo não é, necessariamente, anunciada pelo mau tempo. “Os programas (pautados por editais) não têm continuidade. É necessário que se tornem mais permanentes, de longo prazo, para saber onde queremos chegar”, considera o diretor técnico do Esplar.
O problema ainda é resolvido com paliativos. Até setembro deste ano, a Defesa Civil do Estado recebeu R$ 10 milhões do Governo Federal para realizar a distribuição de água por carros-pipa. Outros R$ 13 milhões foram para a limpeza de poços profundos, soma Ioneide Araújo, assistente técnica da Defesa Civil.
O Ceará tem 94 municípios inscritos no Programa de Distribuição de Água – Operação Pipa, de acordo com informações da Seção de Comunicação Social da 10ª Região Militar. O programa é desenvolvido com 679 carros-pipa e atende a 720.412 pessoas.
MAS DOUTÔ UMA ESMOLA / A UM HOMEM QUI É SÃO / OU LHE MATA DE VERGONHA OU VICIA O CIDADÃO / É POR ISSO QUE PIDIMO PROTEÇÃO A VOSMICÊ / HOME PUR NÓIS ESCUÍDO PARA AS RÉDIAS DO PUDÊ - “VOZES DA SECA”
 A QUETURA DO MAR

Os meses de fevereiro a maio compreenderam a estação chuvosa de 2012 no Ceará, demarca a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). O déficit de chuva que caracterizou a sexta pior seca dos últimos 54 anos tem influência da temperatura dos oceanos Atlântico (Sul e Norte) e Pacífico. O aquecimento e o resfriamento dos oceanos, combinados a outros fatores naturais (como a geografia local), resultam em menos, ou mais chuvas para a região, sintetiza Paulo José dos Santos, meteorologista da Funceme.
“Anos de El Niño são mais secos (ao contrário do fenômeno La Niña, quando há um resfriamento da temperatura do Pacífico)”, traça o meteorologista, em linhas gerais. Este ano, observa, o Atlântico Sul estava neutro, o Norte foi aquecido e o Pacífico apresentou La Niña fraca. “São eles (oceanos) que determinam se a estação vai ser chuvosa ou seca. Não tem uma periodicidade certa, há indícios. O período é irregular, não tem uma causa certa”, explica Paulo José.
Os meteorologistas esperam, então, uma resposta do Pacífico sobre a previsão para 2013. “Em dezembro (quando é possível perceber resfriamento ou aquecimento da sua temperatura), já pode ser determinado.Ainda é muito cedo”, conclui Paulo.

Êxodo para o lixão


O que falta aqui é chuva/ mas eu sei que um dia vem/ vai ter tudo de fartura/ pra quem teve hoje que não tem - "terra, vida e esperança"

SARA MAIA

No itinerário da seca, fomos bater em Russas. Um dos municípios da região do Jaguaribe leiteiro e fruticultor. Optamos pela sede em vez do Interior. É que estávamos atrás de confrontar uma dúvida que nos ocorreu no caminho da reportagem. Estariam os agricultores migrando para a zona urbana de suas cidades e ali se transformando em catadores de lixo? A seca, a falta de comida, a batida escassez de oportunidades e a falta de tecnologia para o pequeno produtor estariam desenhando um novo cidadão?

O assunto renderia uma investigação científica. Mas algumas pistas estavam ali. No lixão de Russas, a catadora Maria Odete dos Santos, 60, aos gritos, pedia ao padre Marcos Brito, pároco de Russas, que se aproximasse para conhecer o pedaço onde ela trabalhava numa manhã quente de semiárido.
Enquanto não apresentamos a personagem, padre Marcos Brito faz algumas observações de quem comanda um rebanho 69.892 habitantes entre a zona urbana e a rural. Principalmente os jovens, anota o sacerdote, estão migrando atrás de se empregar nas indústrias que se instalaram nas sedes dos municípios e vizinhança. Além de também procurarem os campi das universidades. Russas não foge a regra. No último censo, o de 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou um crescimento populacional e um inchamento da sede: são 45.007 mil pessoas para 24.885 moradores nos “sítios”.
Ponto dois. Dificilmente, o velho agricultor de enxada e queimada, esse da lida de inverno a estiagem, faz sucessores num semiárido tão desprovido de inovações para a convivência com fenômenos ambientais previsíveis a exemplo da seca. O padre grifa: quem efetivamente ainda tem essa preocupação e estimula a organização popular é a igreja Católica, mas são iniciativas para a subexistência. E ainda bem que hoje se tem cisterna de placa. “Olhe, tem muita água irrigada para o agronegócio. Canais e eixões da integração que passam dentro de grandes propriedades. Mas para a agricultura familiar a experiência é outra”, critica Marcos Brito.
A luta mais recente nos faz reencontrar dona Maria Odete dos Santos, agricultora aposentada que se transformou em catadora de lixo, em Russas. A igreja de padre Marcos Brito, a que fez opção preferencial pelos pobres, está organizando os “recicladores de resíduos sólidos” para que não percam mais um bonde da história.
É que em 2014, os 5.500 municípios brasileiros que possuem lixões têm de se adequar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Isso significa que o lixo terá outra valoração capital e o catador terá status de “agente ambiental”. “A Associação dos Catadores de Material Reciclável de Russas tem de estar preparada para ser protagonista nessa nova realidade, caso contrário ficará nas mãos dos empresários”, alerta padre Marcos Brito.
Em tese, o lixão de Russas será extinto e a vizinha, e mais organizada, Limoeiro do Norte ficará com o controle de um moderno aterro sanitário para reciclagem e compostagem do lixo produzido por municípios num raio de 60 quilômetros. “Estamos no lixão porque a agricultura faliu”, teoriza na prática Maria Odete dos Santos. Uma negra esguia, cheia de disposição aos 60 anos e quatro filhos adultos em Fortaleza. Ela, filha de uma família de agricultores de Barbalha (Cariri), que pediu para não ser fotografada. “É que cozinho para um empresário e pode não pegar bem ele me ver aqui no lixão”, sorri na despedida. (Demitri Túlio/Cláudio Ribeiro)

45.007
PESSOAS
vivem na sede do municípios de Russas e 24.885, na zona rural, segundo o IBGE
 0,35
CENTAVOS
É quanto ganha o garoto Edilson, que foi para o lixão, em busca de sobrevivência

Vida melhor em centavos


Menino, nos 12 ainda, Edilson Silvestre de Castro ajudava os pais na roça em Palhano, na localidade Cedro Santana. Aprendia as primeiras lidas da enxada, feito muitos de idade pouca - é assim que é no Interior. Aos 25, “Pequeno” agora cata lixo em Russas.
Começou a ganhar dinheiro com as sobras alheias logo que ficou maior de idade. Migrou da roça para o monturo por achar que ali havia “mais chance” (termo dele) do que na sequidão. Já foi catador de caju “e não era melhor”. Diz que outros têm aparecido, também vindos de áreas rurais.
O “melhor”, de que fala Pequeno, é ganhar R$ 0,35 por quilo de plástico catado. Ou R$ 0,15, se for ferro ou outro metal. Enche bolsões de 25 kg e repassa ao intermediário. ganha perto de R$ 800/mês. Chega às 7h30, sai às 17h. “Lá na minha cidade tá seco é demais. Aqui me acostumei, já”, admite. Agora, é assim que é. (CR/DT)

Verde no cinza
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!/ nunca mais nós pensa em seca, vai dá tudo nesse chão/ como vê nosso distino mercê tem nas vossa mão - "vozes da seca"







SARA MAIA
Percorre-se léguas tiranas no asfalto ou no poeiral. A floresta está sem folha. Tudo acinzentado. De repente, o verde que nem o “dos óio” da moça versada por Humberto Teixeira e entoada por Luiz Gonzaga em Asa Branca “se espaia na prantação”. A água dos pivôs de irrigação borrifa e pinta o verde até longe.

No distrito Realejo, na fazenda Curralinho, em Crateús, plena seca, e 50 toneladas de amendoim prontas para a colheita. Seriam apanhadas no dia seguinte à visita do O POVO. Arranca-se na mão, de baixo da terra, a vagem com o fruto. Atente: safra perdida de tudo no Estado e lá o chão, com a aguação garantida, milagrando fartura.
A fazenda também produz feijão, milho, mamona e sorgo. Os governos Federal e Estadual são os principais compradores dos grãos, informa o empresário João Beckman Filho, 25, proprietário do local.
Por conta da irrigação, a Curralinho garante por ano pelo menos duas safras de qualquer uma das cinco culturas. São dali as sementes de milho e feijão que serão distribuídas ao pequeno agricultor entre o fim deste ano e começo de 2013. Serão justamente as primeiras a brotarem nas chuvas da próxima invernada. Há de chover, se Deus quiser, como reza a fé.
Segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce) mais os números do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará tem 117.060 hectares de área irrigada - entre projetos federais, estaduais e de particulares. Os segmentos de fruticultura, floricultura e de milho e feijão são os principais.
Deixar o chão produtivo mesmo quando tudo ao redor está na secura não é barato. No caso da fazenda Curralinho, de 125 hectares, o proprietário investiu R$ 300 mil só para adquirir o pivô central, de 75 metros (o local tem dois). Para manter a propriedade, segundo Beckman Filho, são R$ 15 mil/mês. Mas há vantagem. Quando tudo esturrica e só resta o produzido da irrigação, aí o apurado melhora. Os preços saltam. “Numa safra a gente arrecada R$ 400 mil, em média”, diz o empresário.
A fazenda Chapadão, do Tabuleiro de Russas, de 110 hectares, também está produzindo sementes - de milho, soja e feijão - para chegar no roçado dos pequenos agricultores de todo o Ceará. Os grãos também serão silados para dar comida ao gado.
Todas as etapas de produção são mecanizadas e o pivô não para de circular sobre o milharal. “Pra nós, quanto mais seco melhor, porque posso controlar a água no plantio como quiser”, explica seu Juarez Ferreira, 62, gerente da fazenda. No sol a pino, ruim pra uns, vantagem de outros. (Cláudio Ribeiro/ Demitri Túlio)

70
diaristas chegam a trabalhar na Fazenda Curralinho em época de colheita.

 

Presente de Deus


SARA MAIA

Feliz do pequeno agricultor que um dia consiga um lote como irrigante, em perímetros assistidos pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Tá o povo se lamuriando por toda banda de Ceará e seu Francisco de Assis Silva, 41, nos seus quatro hectares, em Pentecoste, colhendo coco, banana e manga.

Vende por mês seis milheiros de coco e até 25 de banana prata da boa. Enche carradas, que vão para a revenda em feiras e mercados. A manga é “só para casa mesmo”, consumo dele, mulher e três filhos ou dos passarinhos.
Assis era aguador de outro irrigante quando conseguiu seu lote. Hoje trabalha das seis da manhã às seis da noite. “Quem quer pode fazer, mesmo se for aqui”, diz o gerente executivo do Perímetro Curu-Pentecoste, Sérgio Medeiros.
Lá estão 650 famílias em 1.200 hectares. Cada lote tem de quatro a cinco hectares, mas trabalham associados. Juntos, mensalmente, produzem 2 milhões de cocos, 400 toneladas de banana, uma tonelada de graviola, 2 mil toneladas de cana de açúcar e mais uma tonelada de maracujá.

Os irrigantes, segundo Medeiros, pagam despesa mensal de R$ 22 mil. A seca até afeta a distribuição de água, admite, mas controlam para que não caia a produtividade. “Um perímetro desse é um presente de Deus. Não vejo o Ceará viável se não for por irrigação”, diz o gerente.(CR/DT)

 

O céu que nos provenha


Quando o sol tostou as foia / e bebeu o riachão / fui inté o Juazeiro/ pra fazer a minha oração / tô voltando estropiado / mas alegre o coração / Padim Cicço ouviu a minha prece / fez chover no meu sertão - "légua tirana"
...

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