Enquanto o Brasil se comove neste Natal com a morte de três crianças vítimas de balas perdidas nas regiões Sul e Sudeste, o Ceará lamenta a morte de um recém-nascido no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), porque a avó fundamentalista religiosa (Testemunha de Jeová) não permitiu a transfusão de sangue para salvar o neto, que será sepultado hoje à tarde, na véspera do Natal.
O fato aconteceu ontem, depois que a mãe, uma adolescente de 15 anos teve o menino há quatro dias. O filho nasceu com complicações. Era necessária a transfusão e a mãe tentava convencer a avó do menino a fazer o procedimento desde o nascimento na sexta-feira passada (20), mas de nada adiantou a tentativa. O recém-nascido acabou morrendo.
A mãe por ser menor não podia autorizar a transfusão e a pessoa responsável era a avó que negou o pedido da filha. A criança morreu na unidade neo-natal do HGF sob os olhares revoltados de outras mães, de médicos e enfermeiras.
O HGF, a pedido dos familiares, não divulgou porque o recém-nascido teria que sofrer a transfusão de sangue e nem informou o atesto de óbito. Em nota, o HGF destacou que "devido à delicadeza do caso, qualquer informação sobre o estado de saúde dos pacientes atendidos no HGF só pode ser repassado com autorização prévia da família. E, no caso específico, os parentes não autorizaram qualquer divulgação".
Mas o Hospital tentou através de seu serviço social buscar a autorização via Ministério Público Estadual da Saúde, mas já era tarde. Quando a autorização ia ser dada pela promotora estadual de Justiça de Defesa da Infância e da Adolescência, Antônia Lima, no final da manhã desta segunda-feira, a criança veio a óbito. A promotora está representando a avó como culpada pela morte do neto. "Ela será responsabilizada criminalmente, pois impediu que os médicos tomassem as medidas necessárias para salvar a vida da criança", atestou Antônia Lima.
A promotora pretende ainda abrir um inquérito policial. Segundo ela "a avó ao não permitir que o recém-nascido tomasse sangue assumiu o risco pela morte da criança. Isso é um dolo que deve ser apurado pela Polícia".
A promotora foi mais além e disse que "se a avó sabia que o neto estava muito doente e se precisava tomar sangue para não morrer, isso não é mais uma negligência e sim um homicídio doloso, uma vez que ela assumir o risco de morte".
Antônia Lima chegou a comparar o caso com a situação da Lei Seca: "a partir do momento que uma pessoa dirige sob efeito do álcool ela assume o risco de provocar um acidente nas estradas e matar alguém. Analogicamente é a mesma coisa".
O Ministério Público apurou que a avó negou a transfusão porque sua religião (Testemunha de Jeová) não permite pessoas receberem sangue de outras. Falando em nome das Testemunhas de Jeová no Ceará, Ricardo Kataoka disse ao Diário do Nordeste, que não tem conhecimento que a avó e nem a mãe frequentem este grupo cristão. Ele disse que acredita que "elas leram a Bíblia e tiraram, elas mesmas, essa conclusão de que não poderia dar o sangue para o bebê.. Nossa doutrina tem uma posição de não aceitar este procedimento, mas existem alternativas, além do que há a defesa de valorização da vida. Jamais queremos que chegue a um óbito".
O presidente do Partido Social Cristão (PSC) no Ceará, vereador por Fortaleza, Wellington Saboia condena este fundamentalismo do grupo Testemunha de Jeová. "Apesar de ser um Partido Social Cristão, não somos fundamentalistas religiosos. Temos sim, na nossa doutrina, alguns princípios cristãos. Pessoalmente não sou tão vocacionado a questão da religiosidade, mas dentro do dentro do âmbito ideológico partidário eu comungo dessas defesas do partido, que é contra o aborto e é pela defesa da vida em todas as ocasiões, e essa de ter transfusão de sangue porque a religião proíbe somos contra. Então a vida do ser humano deve estar em primeiro lugar".
Comentários
Postar um comentário